Aldir Blanc
Aldir Blanc | |
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Informações gerais | |
Nome completo | Aldir Blanc Mendes |
Nascimento | 2 de setembro de 1946 Rio de Janeiro, DF |
Morte | 4 de maio de 2020 (73 anos) Rio de Janeiro |
Nacionalidade | brasileiro |
Gênero(s) | MPB |
Ocupação | Letrista, compositor e cronista |
Período em atividade | 1963–2020 |
Outras ocupações | Médico |
Aldir Blanc Mendes (Rio de Janeiro, 2 de setembro de 1946 — Rio de Janeiro, 4 de maio de 2020) foi um letrista, compositor, cronista e médico brasileiro. Abandonou a profissão de médico para tornar-se compositor, sendo considerado um dos grandes letristas da música brasileira.[1][2][3]
Em 50 anos de atividade como letrista e compositor, foi autor de mais de 600 canções.[4][5] Sua principal parceria se deu com João Bosco, em colaboração que se estendeu pela década de 1970 e parte da década de 1980 e foi considerada como uma das "duplas fundamentais da MPB".[6] Blanc teve cerca de 50 parceiros em sua carreira, destacando-se, além de Bosco, Guinga, Moacyr Luz, Cristovão Bastos, Maurício Tapajós e Carlos Lyra.[7] Entre seus trabalhos mais notáveis como letrista estão Bala com Bala, O Mestre-Sala dos Mares, Dois pra Lá, Dois pra Cá, De Frente pro Crime, Kid Cavaquinho, Incompatibilidade de Gênios, O Ronco da Cuíca, Transversal do Tempo, Corsário, O Bêbado e a Equilibrista, Catavento e Girassol, Coração do Agreste e Resposta ao Tempo.
Além de letrista, Blanc foi também cronista, tendo escrito colunas em publicações como as revistas O Pasquim e Bundas e os jornais O Globo, Jornal do Brasil e O Dia.[8] Muitas dessas crônicas foram lançadas mais tarde como livros, como são os casos de Rua dos Artistas e arredores, Porta de tinturaria e Vila Isabel, inventário da infância.[9] Apaixonado pelo Vasco da Gama, escreveu - em parceria com José Reinaldo Marques - o livro Vasco - a Cruz do Bacalhau. Ao longo de sua obra, são várias as referências - implícitas ou explícitas - ao Vasco.
Salgueirense boêmio por muitos anos,[10][11] acabou se tornando uma pessoa quase totalmente reclusa em seu apartamento na Muda, no bairro carioca da Tijuca.[4] Segundo o próprio Aldir, sua reclusão era consequência de uma fobia social desenvolvida a partir de um grave acidente de carro, em 1991, que limitara os movimentos da perna esquerda.[12][13] Em 2010, ao descobrir sofrer de diabetes tipo 2 e pressão alta, parou de fumar e consumir álcool.[12][13] Em 2020, dias após ser internado em estado grave com infecção urinária e pneumonia, morreu em decorrência da COVID-19.[14][15] Sua morte foi muito lamentada no meio artístico brasileiro.
Em sua homenagem foi inaugurado o Jardim Aldir Blanc, na Avenida Maracanã esquina com Rua Marechal Trompowski, na Muda Tijuca.[16]
Histórico
Vida pessoal
Blanc nasceu em 2 de setembro de 1946, no bairro do Estácio, no décimo mês de gestação de sua mãe, Helena, cujo trauma deixou uma espécie de depressão pós-parto na mãe. Nunca mais engravidou e quase não saía de casa - comportamento mais tarde adotado pelo filho - até sua morte, em 2002, com 80 anos.[10][17] Seu pai, Alceu, era funcionário do antigo Iapetec e amava jogar sinuca e nos cavalinhos. Sujeito de poucas palavras, tornou-se o maior amigo de Aldir com o tempo.[17] Filho único, teve no avô materno, o português Antônio Aguiar, a presença mais afetuosa em sua infância, que praticamente criou o neto na casa de Vila Isabel, bairro onde estariam tipos e cenários fundamentais para os textos e as letras do futuro letrista e cronista.[5][17] Aos 11 anos, seus avós foram morar no Estácio. Com o passar dos anos, o contato com os malandros da área aumentou, levando os avós a persuadi-lo a morar com um primo um pouco mais velho, na Tijuca, que o levou a conhecer bailes, noitadas boêmias, mulheres, futebol, a quadra da escola de samba Acadêmicos do Salgueiro (que se tornaria a escola do coração de Blanc), os blocos de Carnaval.[7]
Aluno exemplar em biologia, conseguiu ingressar em 1965 na Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, de onde saiu em 1971 com especialização em psiquiatria.[17] Fez residência dentro do Centro Psiquiátrico Pedro II, no Hospital Gustavo Riedel, em Engenho de Dentro, mas como se negava constantemente à rotina de eletrochoques em pacientes do manicômio, saiu de lá após um ano para abrir seu próprio consultório, no centro do Rio.[17] Às vezes, chamava o paciente para conversar na rua ou num bar. Assim foi até 1973, época em que já era um parceiro de João Bosco e gravado por Elis Regina e tinha vontade de se dedicar exclusivamente à carreira de letrista.[17] Concretizou a decisão em 1974, logo após o trauma deixado pelas mortes de Maria e Alexandra, as filhas gêmeas prematuras de sete meses que seriam as primeiras de seu casamento com a professora Ana Lúcia.[4][7] Dessa relação, eles teriam mais tarde as filhas Mariana (nascida em 1975) e Isabel (nascida em 1981). Quando Blanc se casou com a professora Mary Sá Freire, em 1988, ela já tinha duas filhas, Tatiana e Patrícia, que foram criadas como suas também.[4]
Viveu por muitos anos em seu apartamento na Rua Garibaldi, na Muda, onde frequentou assiduamente os botequins da região. Nunca viajou para fora do Brasil.[4] Durante a década de 1980, passou a beber com maior frequência, foi se afastando de alguns hábitos sociais e foi desenvolvendo fobia social, chegando a ser diagnosticado com depressão.[7] O quadro piorou e o levou a viver em reclusão quase permanente na década seguinte, agravada por um grave acidente de automóvel, sofrido em 1991, que lhe dificultou para sempre o movimento da perna esquerda.[4][17] Sem poder andar nas ruas com a frequência de outrora, às vésperas da Copa do Mundo FIFA de 2010 recebeu diagnóstico de diabetes tipo 2, o que lhe exigiu o fim do consumo de álcool e de cigarros.[4][17] Embora recluso, adorava falar pelo telefone com os amigos, onde comentava o noticiário e compartilhava informações sobre a família.[4][5][11] Além do tempo dedicado ao convívio com a família e às conversas por telefone com os amigos, passava muito tempo em seu espaçoso escritório, lendo seus livros e ouvindo seus discos.[4][5] Ateu,[11] adorava ler obras sobre mitologia grega, Segunda Guerra Mundial e psicanálise, além de romances policiais.[4][18] Era também grande apreciador de discos de jazz.[18][19]
Em 2013, o jornalista Luiz Fernando Vianna lançou uma biografia autorizada sobre Blanc.[17]
Morte e repercussão
Em 10 de abril de 2020, Blanc deu entrada no Hospital Municipal Miguel Couto com infecção urinária e pneumonia. Com o agravamento do seu quadro clínico, o letrista foi transferido dias depois para a Unidade de Terapia Intensiva do Hospital Universitário Pedro Ernesto, onde um exame revelou uma infecção pelo COVID-19.[20][21] Na madrugada de 4 de maio, acabou por não resistir e morreu por complicações da doença.[1][12][13][22] Aldir deixou a esposa Mari Lucia, quatro filhas, cinco netos e um bisneto.[13]
A morte de Blanc foi lamentada por diversos artistas e personalidades. João Bosco, seu longo parceiro musical, publicou texto em rede social no qual dizia que sua própria vida se confundia com a vida de Blanc. Segundo Bosco, "não existe João sem Aldir". João Bosco concluiu: "perco o maior amigo, mas ganho, nesse mar de tristeza, uma razão para viver: quero cantar nossas canções até onde eu tiver forças. Uma pessoa só morre quando morre a testemunha. E eu estou aqui para fazer o espírito do Aldir viver".[23] Também parceiro de Aldir Blanc, Moacyr Luz afirmou que o amigo "vai fazer uma falta incrível".[24]
Muitas personalidades do mundo da música prestaram suas homenagens à Aldir Blanc. A cantora Maria Rita, filha de Elis Regina, afirmou que o compositor deixou "legado, amor, senso crítico, arte, cultura" e que o céu iria presenciar uma "farra boa".[25] João Barone, baterista do Paralamas do Sucesso, afirmou que a perda de Blanc deveria ser "luto nacional".[26] Para o rapper Emicida, "a poesia acorda triste com a partida de mais uma caneta que nos inspirou a sonhar".[27] Também prestaram homenagens o sambista Zeca Pagodinho,[28] o músico e poeta Arnaldo Antunes,[25] o ator Alexandre Nero,[28] as jornalistas Eliane Brum e Mônica Waldvogel,[25][29] o jornalista e escritor Xico Sá,[29] o apresentador Luciano Huck,[28] dentre outros.
Do mundo da política, se pronunciaram os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef. Lula definiu Blanc como "um compositor brilhante, autor de canções que emocionam gerações de brasileiros",[26] e afirmou que "o Brasil, sua cultura e democracia devem muito ao seu talento e generosidade".[29] Para Wilson Witzel, governador do Estado do Rio, o país perdeu "um dos maiores letristas brasileiros", asseverando ainda que Blanc era "o carioca em sua perfeita essência".[29] Também se pronunciou Eduardo Paes, ex-prefeito do Rio.[29]
A então Secretária da Cultura, a atriz Regina Duarte, foi criticada pelo fato de não ter publicado nota sobre o falecimento do compositor.[30] Regina Duarte argumentou que, em vez de homenagens públicas, optou por enviar mensagens privadas à família.[31] A atriz justificou ainda que não conhecia Aldir Blanc pessoalmente, e que "o país está cultuando a memória deles [artistas falecidos na época], não precisa da secretária de Cultura".[30] Porta-voz da família de Blanc, contudo, negou que Regina Duarte tivesse enviado condolências à família; segundo o porta-voz, a mensagem foi enviada por um assessor, e não por Duarte, e não levava a assinatura da atriz, mas do órgão da Secretaria da Cultura.[30] A filha de Blanc, Isabel, criticou Regina Duarte em uma rede social: chamando-a ironicamente de Regina "Demarte", ao invés de "Duarte", afirmou que Regina "não estava à altura" do seu pai e que "ele não merecia tamanho desgosto".[32]
Carreira artística
Música
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Aldir Blanc deu seus primeiros passos na música em meados da década de 1960, quando começou a compor aos 16 anos e aos 17 aprendeu a tocar bateria, fundando o grupo Rio Bossa Trio, que com a entrada do músico Sílvio da Silva seria rebatizado para GB-4.[22] Com o novo integrante, Blanc firmou sua primeira parceria musical. Uma dessas parcerias, "A noite, a maré e o amor", competiu no III Festival Internacional da Canção em 1968.[33]
A partir de 1969, surgiu uma nova parceria com César Costa Filho, compositor do qual foi colega no Movimento Artístico Universitário, que integrou ao lado de nomes como Ivan Lins e Gonzaguinha.[4][10] Dessa parceria, classificou duas canções no II Festival Universitário da Música Popular Brasileira: "De esquina em esquina" (interpretada por Clara Nunes e "Mirante" (interpretada por Maria Creuza).[33] Também nesse festival teve "Nada sei de eterno", defendida por Taiguara e fruto de parceria com Sílvio da Silva. Em 1970, com a coautoria de Silva, despontou o primeiro grande sucesso, “Amigo É pra Essas Coisas”, que chegou ao segundo lugar no III Festival Universitário de Música Popular Brasileira, da TV Tupi, na interpretação do grupo MPB-4. Ainda naquele ano, teve no V Festival Internacional da Canção a canção "Diva", feita com César Costa Filho - mas desentendimento entre os autores por questões ideológicas ceifou essa parceria em 1971.[10]
Em 1971, por intermédio de um amigo, conheceu o então estudante de engenharia civil João Bosco.[17] Desse encontro, surgiu uma das mais importantes parcerias da música brasileira. Como o violonista e compositor morava em Ouro Preto, a primeira leva de parcerias deu-se por correspondência, como é o caso de “Agnus Sei”, lançada como lado B de um compacto do jornal O Pasquim, em 1972, que tinha como lado A a inédita “Águas de Março”, interpretada por Tom Jobim.[4] Ainda naquele ano, a dupla mostrou algumas músicas para Elis Regina, que gostou de “Bala com Bala" e a incluiu no seu LP "Elis". A partir dali, a cantora gaúcha tornar-se-ia uma das principais intérpretes da dupla, tendo gravado 20 músicas da parceria, além de ter a primazia de ouvir antes a produção da dupla naquela década para escolher o que queria lançar.[10] Um dos seus maiores sucessos da carreira foi "O Bêbado e a Equilibrista", lançado no LP "Essa Mulher", cuja melodia de Bosco foi inspirada inicialmente em “Smile”, do ator e cineasta Charlie Chaplin, e cuja letra ganhou forma com outros deslocados na história, como os exilados pela ditadura militar brasileira. Assim que foi lançada por Elis, a canção tornou-se hino do movimento pela anistia, de 1979, e pela defesa do fim da ditadura.
A parceria Bosco e Blanc rendeu outras canções marcantes, como O Mestre-Sala dos Mares, Dois pra Lá, Dois pra Cá, De Frente pro Crime, Kid Cavaquinho, Incompatibilidade de Gênios, O Ronco da Cuíca, Transversal do Tempo, Corsário, Bijuterias, Nação (esta em parceria Paulo Emílio e gravada por Clara Nunes), De Frente Pro Crime (sucesso na voz de Simone) e Caça à Raposa. No entanto, a partir da década de 1980, os amigos foram se afastando gradualmente, e a parceria foi dissolvida em 1986.[6] Blanc e Bosco voltaram a se aproximar em 2002, quando Bosco convidou o velho parceiro para uma gravação de “O Bêbado e a Equilibrista” em seu songbook, e dali voltaram a se falar por telefone diariamente, além de às vezes comporem.[4][10] Ao todo, realizaram mais de 100 músicas.[7]
Outros parceiros importantes na carreira de Blanc foram o violonista Guinga (mais de 80 parcerias), o sambista Moacyr Luz (mais de 60 parcerias) e o pianista Cristovão Bastos (mais de 30 parcerias).[7] Contendo apenas canções compostas com Blanc, Guinga lançou o seu disco de estreia, ‘‘"Simples e Absurdo"’’, início de uma parceria que renderia músicas como "Catavento e Girassol", "Nítido e Obscuro" e "Baião de Lacan". Da parceria com Luz vieram "Medalha de São Jorge" e “Coração do Agreste”, esta um dos maiores sucessos da carreira de Fafá de Belém e tema da novela “Tieta”, da Rede Globo.[10] Compôs “Resposta ao Tempo”, parceria com Cristovão Bastos gravada por Nana Caymmi, que virou tema de abertura da minissérie “Hilda Furacão”.[4][10] Blanc também é autor, com Cleberson Horsth, da canção "A Viagem", sucesso gravado pelo grupo Roupa Nova e tema da novela com o mesmo nome, sucesso em 1994.[1]
Embora tenha sido letrista de centenas de músicas, Aldir Blanc gravou como cantor apenas dois álbuns de estúdio. O primeiro deles em 1984, "Aldir Blanc e Maurício Tapajós", com Maurício Tapajós. E o segundo deles em 2005, “Vida Noturna”, onde interpretou 12 faixas de sua autoria. Além desses, participa do tributo em sua homenagem, “Aldir Blanc - 50 Anos”, lançado em 1996, que contou com a participação de Betinho ao lado do MPB-4 em "O Bêbado e a Equilibrista", e diversas participações especiais, como de Edu Lobo, Paulinho da Viola, Danilo Caymmi e Nana Caymmi.
Outra de suas grandes paixões, o futebol foi também inspiração para diversas canções, como é o caso de "Gol anulado" (com João Bosco).[34] Vascaíno fanático, homenageou Roberto Dinamite em "Siri recheado e o cacete" (com João Bosco) e Romário "Yes, Zé-Manés"(com Guinga).[34] Ainda compôs "Coração Verde e Amarelo" (com Tavito Carvalho), tema da Rede Globo para a Copa do Mundo FIFA de 1994.[34][35][36]
Um dos últimos trabalhos de Blanc foi compor, em parceria com Carlos Lyra, a trilha do musical "Era no Tempo do Rei", baseado no romance de Ruy Castro e com adaptação de Heloisa Seixas e Julia Romeu.[17]
Literatura
Estamos falando do ourives do palavreado. Estamos falando de poesia verdadeira. Todo mundo é carioca, mas Aldir Blanc é carioca mesmo.
Dorival Caymmi, em apresentação no disco-tributo "Aldir Blanc - 50 Anos"[3][17]
Paralelamente a sua carreira como letrista, Aldir Blanc começou a escrever crônicas inspiradas na sua vida nos subúrbios cariocas para os jornais "Última Hora", "Tribuna da Imprensa" e a revista "Homem", até fixar-se em "O Pasquim", em 1975.[17] Da compilação de crônicas escritas para este último nasceriam os livros "Rua dos Artistas e Arredores" (1978) e "Porta de Tinturaria" (1981), que seriam reunidos em um só volume como o título "Rua dos artistas e transversais" (2006).[37] Em suas crônicas, Blanc reconstruia cenas do cotidiano de ruas e personagens da sua infância em Vila Isabel, que segundo o cronista, existiram de fato, como o primo Esmeraldo (conhecido pelas domésticas da Penha como "Simpatia É Quase Amor", cognome que inspirou a criação do famoso bloco de Carnaval de Ipanema[3][37]), Lindauro, Belizário, Pelópidas, Tatinha, Gogó de Ouro, Paulo Amarelo, Waldir Iapetec, Tuninho Sorvete.[17] Também foi cronista dos jornais O Globo, Jornal do Brasil e O Dia, além da revista Bundas.[8]
Outras antologias de crônicas lançadas foram “Brasil passado a sujo: a trajetória de uma porrada de farsantes” (em 1993), "Vila Isabel - Inventário de infância" e “Um cara bacana na 19ª” (ambos em 1996). Teve em 2008 publicado “Guimbas”, uma coleção de aforismos, e no ano seguinte o lançamento de “Uma caixinha de surpresas”, sua estreia na literatura infantil.[8] Também em 2009, foi publicado o livro “Vasco – a cruz do bacalhau”, escrito em parceira com o jornalista José Reinaldo Marques, em homenagem ao time do coração de Blanc.
Na década de 2010, teve alguns títulos reeditados, além do lançamento de duas antologias de crônicas inéditas: “O gabinete do doutor Blanc: sobre jazz, literatura e outros improvisos”, compilação de textos saídos na revista eletrônica “No”, e “Direto do balcão” reunião de colunas publicadas na imprensa.[8]
Relação com o Vasco
Naquele tarde chuvosa no Maracanã, o goleiro do Bangu bobeou. Vavá marcou;
Na arquibancada molhada, o negro e o português, por antecipação, tinham em mãos o caneco de 56;
Daquela tarde aos 10 não me esquecerei: fui para a Rua dos Artistas, me gripei, caí de cama;
Doído, com 40 graus, escolhido dentro do pijama, contraí esse doença: ser Vasco da Gama!
Aldir Blanc, trecho do texto "Febre Vascaíno"
Neto de um imigrante português, Blanc passou a torcer pelo Vasco por influência de seu pai, vascaíno, que costumava levá-lo aos jogos da equipe quando era criança.[38] Segundo Blanc, o amor pelo Vasco "se cristalizou" quando o Vasco ganhou o Campeonato Carioca de 1956 por antecipação, em cima do Bangu.[38][39] A conquista foi posteriormente lembrada por Blanc na crônica "Febre Vascaíno", publicada pela primeira vez na Revista Placar, em 1993,[40] e posteriormente no livro "Direto do Balcão".
Aldir Blanc já foi descrito como "vascaíno apaixonado",[39][41] "fanático" e "vascaíno incurável",[42] "porta-voz" do Vasco,[43] como um dos "vascaínos mais célebres"[38] e como alguém que conseguia como poucos "traduzir tão bem o significado de ser vascaíno".[38] Sua relação com o Vasco já foi apresentada como "um caso de amor",[44] e o Vasco sua "grande paixão".[38] Sua relação com o Vasco era tão intensa que Luis Fernando Veríssimo certa vez escreveu: "é preciso lembrar sempre que o Vasco da Gama não é o Eurico Miranda. É sua história e suas glórias, incluindo o Aldir Blanc".[45] Blanc era crítico feroz de Eurico Miranda, ex-presidente do Clube, a quem chegou a acusar de chefiar a instituição com "uma retórica fundamentalista e estúpida anti-Flamengo", afirmando ainda que Eurico seria um "almocreve de charuto importado", em referência ao hábito do ex-mandatário de fumar charutos.[38]
Sobre ser vascaíno, o compositor escreveu em crônica "quando eu nasci, um anjo luso, desses que empurram burrinho-sem-rabo, me sacaneou: ‘Bai, Vlanc, ser Basco na bida’".[38] Blanc comparou ser vascaíno a uma "tragédia grega", já que, segundo ele, "é a mesma história de sempre: somos campeões, sonhamos com novas conquistas, e aí os cartolas vendem Walter Marciano, ou Tita, ou o Romário, ou o Fernando - e a gente fica roendo beira de dignidade (...)". De forma hiperbólica, o compositor afirmou que "noventa anos é mais ou menos a idade que eu tenho de tanto sofrer por esse time". Não obstante, Blanc conclui: "A Cruz de Malta será sempre o meu pendão, porque o meu Vasco é o Vasco da minha infância".[38][46] Quando o Vasco foi rebaixado pela primeira vez à Série B, Blanc afirmou: "se o Vasco for para a Segunda Divisão, sou Vasco. Se for para a Terceira, sou Vasco. Se o Vasco acabar, ainda sou Vasco".[39] O compositor costumava frequentar o Maracanã na década de 70 para torcer pelo Vasco; segundo ele, preferencialmente no último degrau da arquibancada, onde ficava mais perto dos bares e tinha a vista da zona da Leopoldina.[38] Quando aparecia nos jornais, muitas vezes fazia questão de posar com a camisa cruzmaltina.[38]
O Vasco esteve presente em vários dos trabalhos de Aldir Blanc, fosse em suas composições, fosse em suas crônicas. O Vasco é mencionado de forma expressa ou implícita em algumas composições de Blanc. A música "Êxtase", escrita em parceira com Djavan, começa com "Eu devia ter sentido o teu rancor/ Mas tava doido num jogo de vasco-ô-ô-ô!".[45] A pronúncia de "Vasco" é prolongada com o "ô", como o nome do clube é cantado pelos torcedores nas arquibancadas;[47] a sensação de êxtase é, assim, representada pela comemoração de um gol do Vasco no meio da torcida.[48] Muitas das referências ao cruzmaltino são implícitas, e se encontram nas diversas composições escritas em co-autoria com o rubro-negro João Bosco. Blanc e Bosco costumavam inserir referências aos seus times de coração em suas músicas.[49] Na música "Gol Anulado", os compositores cantam a história de um homem que, ao descobrir que a companheira não torce pelo Vasco, mas sim para o rival Flamengo, constata que o casamento perdeu o sentido.[50] A música é polêmica por fazer alusão à violência contra a mulher: em um trecho da canção, é dito "Quando você gritou mengo/ No segundo gol do Zico / Tirei sem pensar o cinto/ E bati até cansar”.[51] Blanc também se referia aos jogadores do Vasco em suas obras: na composição "Siri Recheado e o Cacete", homenageia Roberto Dinamite. Já em "Yes, Zé Manés", o homenageado é Romário.[48]
O Vasco também era um tema presente em suas crônicas, publicadas em jornais como "'O Globo", "Jornal do Brasil", "O Dia" e "O Estado de São Paulo".[39] Quando era cronista do O Pasquim, costumava inserir referências ao Vasco em seus textos.[38] Em suas crônicas também fazia referências a jogadores do Vasco: a crônica "Sina" é uma homenagem o goleiro Barbosa; as crônicas “À sombra das goiabeiras em flor” e “Cachorrada fatal” colocam o zagueiro Bellini no centro da trama; já na “Uma última palavra”, Blanc apresenta sua perspectiva de um Clássico dos Milhões.[48] Um dos livros escritos pelo compositor foi "Vasco, a cruz do bacalhau", sobre o time cruzmaltino. O livro, feito em parceria com o jornalista e historiador José Reinaldo Marques, apresenta a história do Vasco ao longo das décadas, com a inserção de "causos" que ficaram famosos no clube mas que nunca foram confirmados.[48]
Obras
Discografia
- Álbuns de estúdio
- ‘‘Aldir Blanc e Maurício Tapajós’’, com Maurício Tapajós (1984)
- ‘‘Vida noturna’’ (2005)
- Coletâneas
- ‘‘Rio, ruas e risos’’, com Maurício Tapajós (1984)
- ‘‘Aldir Blanc e Maurício Tapajós’’, com Maurício Tapajós (1994)
- Tributos
- ‘‘Simples e absurdo’’, de Guinga (1991)
- ‘‘Aldir Blanc - 50 Anos’’, com vários artistas (1996)
- ‘‘Catavento e Girassol’’, de Leila Pinheiro (1996)
- ‘‘Pequeno círculo íntimo’’, de Adriana Capparelli (1999)
- ‘‘Dorina canta sambas de Aldir e ouvir ao vivo’’ (2006)
- Trilha sonora
- ‘‘Era no tempo do Rei’’, com vários artistas (2010)
Livros
- ‘‘Rua dos Artistas e Arredores’’ (Ed. Codecri, 1978)
- ‘‘Porta de tinturaria’’ (1981)
- ‘‘Brasil passado a sujo’’ (Ed. Geração, 1993)
- ‘‘Vila Isabel - Inventário de infância’’ (Ed. Relume-Dumará, 1996)
- ‘‘Um cara bacana na 19ª’’ (Ed. Record, 1996)
- ‘‘Heranças do samba’’, em parceria com Hugo Sukman e Luiz Fernando Vianna (2004)
- ‘‘Rua dos artistas e transversais’’ (2006)
- ‘‘Guimbas’’ (2008)
- ‘‘Vasco - a Cruz do Bacalhau’’, em parceria com José Reinaldo Marques (2009)
- ‘‘Uma caixinha de surpresas’’ (2010)
- ‘‘O gabinete do doutor Blanc — sobre jazz, literatura e outros improvisos’’ (2016)
- ‘‘Direto do balcão’’ (2017)
Referências
- ↑ a b c «Morre Aldir Blanc, um dos maiores compositores e escritores brasileiros, aos 73 anos, vítima do Covid-19 e Regina Duarte disse em entrevista não conhecê-lo.». Rolling Stone Brasil. 4 de maio de 2020. Consultado em 4 de maio de 2020
- ↑ «De coronavírus, morre Aldir Blanc, um dos maiores compositores brasileiros». Rede Brasil Atual. 4 de maio de 2020. Consultado em 4 de maio de 2020
- ↑ a b c Luiz Antonio Simas (4 de maio de 2020). «Aldir Blanc marcou golaço na história da literatura brasileira». Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de maio de 2020
- ↑ a b c d e f g h i j k l m n Luiz Fernando Vianna (4 de maio de 2020). «Aldir Blanc, um dos grandes compositores brasileiros, não resistiu à covid-19». Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de maio de 2020
- ↑ a b c d Ruy Castro (4 de maio de 2020). «Aldir Blanc fez versos que poderiam estar em qualquer livro de poesia». Folha de S.Paulo. Consultado em 4 de maio de 2020
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- ↑ https://prefeitura.rio/conservacao/prefeitura-inaugura-jardim-e-escultura-em-homenagem-ao-compositor-aldir-blanc/
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