Brasil na Copa do Mundo FIFA de 1990
Brasil 9º lugar | |
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Associação | CBF |
Confederação | CONMEBOL |
Participação | 14º (todas as Copas) |
Melhor resultado anterior | Campeão: 1958, 1962, 1970 |
Técnico | Sebastião Lazaroni |
O Brasil na Copa do Mundo de 1990 teve sua 14° participação em copas, mas foi eliminada pela Argentina.
A equipe foi treinada por Sebastião Lazaroni e o capitão foi Ricardo Gomes, zagueiro do Benfica. A Seleção Brasileira utilizou pela primeira vez em sua história o esquema 3-5-2 e terminou na 9ª colocação.
O Brasil havia sido campeão da Copa América depois de 40 anos e tinha a expectativa de apresentar um bom futebol. A participação do Brasil ficou marcada por uma série de polêmicas, como disputas por premiação, escalações, a Argentina dopando jogadores brasileiros em campo e o termo Era Dunga.
Eliminatórias de 1990
Pos | Equipe | Pts | J | V | E | D | GP | GC | SG | Classificado | BRA | CHI | VEN | |
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1 | Brasil | 7 | 4 | 3 | 1 | 0 | 13 | 1 | +12 | Copa do Mundo de 1990 | — | 2–0 | 6–0 | |
2 | Chile | 5 | 4 | 2 | 1 | 1 | 9 | 4 | +5 | Eliminados | 1–1 | — | 5–0 | |
3 | Venezuela | 0 | 4 | 0 | 0 | 4 | 1 | 18 | −17 | 0–4 | 1–3 | — |
30 de julho de 1989 | Venezuela | 0 – 4 | Brasil | Estadio Brígido Iriarte |
Branco 5' Romário 65' Bebeto 79', 81' |
Árbitro: René Ortubé |
6 de agosto de 1989 | Venezuela | 1 – 3 | Chile | Estadio Brígido Iriarte |
Fernández 65' | Aravena 5', 33' Zamorano 71' |
Árbitro: Antenor Montalván Miranda |
13 de agosto de 1989 | Chile | 1 – 1 | Brasil | Estádio Nacional |
Basay 81' | 56' (G.C.) | Árbitro: Jesús Díaz Palacios |
20 de agosto de 1989 | Brasil | 6 – 0 | Venezuela | Morumbi |
Careca 10', 17', 80', 86' Silas 37' Acosta 39' (G.C.) |
Árbitro: Ernesto Filippi |
27 de agosto de 1989 | Chile | 5 – 0 | Venezuela | Malvinas Argentinas[1] |
Letellier 14', 34', 69' Yáñez 44' Vera 84' |
Árbitro: Elías Jácome Guerrero |
- A partida foi disputada em campo neutro (Argentina), porque o Chile foi penalizado por tumultos no jogo contra o Brasil em Santiago.
3 de setembro de 1989 | Brasil | 2 – 0 | Chile | Maracanã |
Careca 49' | Árbitro: Juan Carlos Loustau |
- Em decorrência do goleiro Roberto Rojas ter forjado uma contusão e, consequente saída do jogo, em virtude de um sinalizador arremessado no Maracanã, o Chile, após investigação, foi excluído da Copa de 1990 e o Brasil, que antes da interrupção do jogo vencia por 1 a 0, foi declarado vencedor pela FIFA por 2 a 0 pelo abandono de campo da Seleção Chilena no Maracanã.
Brasil classificado para a Copa do Mundo de 1990
Artilheiros nas Eliminatórias
- 5 gols
- 2 gols
- 1 gols
Assistentes nas Eliminatórias
- 2 Assistências
- 1 Assistência
Ciclo da Copa
O Brasil começou o ciclo sendo treinado por Carlos Alberto Silva, conquistando a medalha de ouro nos Jogos Pan-americanos de 1987 em Indianapolis e a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de 1988 em Seul. Mas foi eliminado na primeira fase da Copa América de 1987 após uma goleada vergonhosa de 4 a 0 para a Seleção Chilena de Futebol. Silva ainda apoiou a candidatura de Nabi Abi Chedid para à presidência da CBF. Com Ricardo Teixeira eleito em 1989, Eurico Miranda indicou Sebastião Lazaroni, então com 39 anos, uma vez que a primeira opção Carlos Alberto Parreira não conseguiu liberação da Arábia Saudita.
Eurico declarou: "Lazaroni é jovem, moderno, trabalhador e vencedor. Foi tricampeão do Rio de Janeiro, vencendo um campeonato com o Flamengo e dois com o Vasco".[2] Lazaroni deu entrevistas afirmando que quatro dos jogadores da primeira convocação foram "indicados" e disse que seria uma espécie de coordenador.[3] De acordo com o jornalista Carlos Orletti, Eurico Miranda afirmou que tinha "poder de veto" nas convocações.[4] Enquete da Folha de S.Paulo indicou que só 3% dos torcedores escolheriam Lazaroni como técnico da seleção brasileira.[5]
O Brasil acabou campeão da Copa América de 1989. A última vez havia sido em 1949, e foi a primeira conquista da seleção Brasileira desde o título da Copa do Mundo FIFA de 1970.
Da equipe que conquistou a Copa América ocorreram cinco modificações: Jorginho no lugar de Mazinho, líder de assistências da Copa América; Alemão no lugar de Paulo Silas, Mozer no lugar de Aldair, Müller no lugar de Bebeto, Careca no lugar de Romário. Mozer perderia a titularidade durante a Copa para Ricardo Rocha.
Em 28 de maio de 1990, 13 dias antes da estreia na Copa, a seleção realizou um jogo treino contra uma seleção da Úmbria, formado por jogadores de três times da Série C da região da Umbria: Perugia, Ternana e Gubbio. O Brasil foi derrotado por 1 a 0. A escalação da derrota histórica foi exatamente a mesma que começou o Mundial O italiano Luca di Matteo recorda: "Uma partida assim, entre uma seleção e uma equipe de Série C, termina normalmente 10 a 0, 15 a 0. A comemoração foi grande. Havia muita incredulidade." [6] O resultado foi tratado como vexame e a seleção chegou à Copa em crise.[7]
A Campanha na Copa do Mundo
O Brasil na Copa do Mundo de 1990 teve um desempenho inesperado. Apesar de ter se classificado em primeiro lugar em seu grupo, as apresentações da equipe não foram boas. O confronto contra a Argentina pelas oitavas de final foi a melhor atuação do time na Copa do Mundo de 1990, porém não foi possível evitar a eliminação. Foi a primeira vez, desde 1966, que o Brasil não terminou entre os oito melhores do torneio. Müller atuava no Torino, que disputou a Segunda divisão da Itália em 1989/90, é o único jogador convocado pelo Brasil para uma Copa do Mundo atuando na segunda divisão.
Disputas por premiações
A Pepsi assinou um contrato de 3 milhões de dólares com a Confederação Brasileira de Futebol. Os jogadores teriam direito a 20%. Porém uma fonte interna descobriu que o valor do patrocínio era bem maior. "Ninguém é mercenário. A gente queria ganhar o que estava no contrato", lembra o ex-zagueiro Ricardo Rocha. Como protesto, os jogadores colocaram a mão no peito para esconder o escudo da CBF.
Também a premiação pela participação no mundial foi objeto de disputa. "Naquela época era o bicho, né. Uns entendiam que a premiação deveria ser dividida só entre os jogadores. A comissão técnica não gostou, com razão. Em 1994, a gente entendeu que todo mundo que estava lá tinha que ganhar igual. Se tivesse acontecido isso em 1990, seria melhor", conta Romário.[8]
Sebastião Lazaroni assinou contrato de 75 mil dólares para dar entrevistas exclusivas à TV Globo durante o mundial.[9]
Disputas pelas escalações
Sebastião Lazaroni frequentemente discutia com os jogadores mudanças na equipe. Segundo Romário, o time "reunia mais do que treinava".[8] Em uma das discusões, Careca disse que, se Lazaroni o tirasse, ele voltava para o Brasil.[10]
"A gente jogava com três zagueiros, se perguntassem para os zagueiros, o esquema era espetacular, os atacantes, que era horrível", diz Branco. "nós olhávamos para aquilo como uma grande bagunça".[11]
Segundo Bebeto, Lazaroni falou que haviam duplas definidas de ataque, Müller-Careca e Bebeto-Romário: "Aí eu falei com ele, Lazaroni. Meu irmão, então eu não vou jogar nunca! Porque o Romário está operado. Eu vinha jogando eliminatórias, Copa América. Eu não entendi nada, cada um tem a sua dupla?".[12]
Muller: "O Lazaroni era um excelente treinador, mas deixava os jogadores à vontade. Eu morava em Turim e se eu dormi um dia na concentração foi muito".[13]
Água Batizada
Diego Maradona confessou que os argentinos doparam os brasileiros em entrevista ao programa Mar Del Fondo, do canal TyC Sports, em 2004. Maradona confessou que mandou o massagista Miguel di Lorenzo, o Galíndez, trocar as garrafas que os argentinos bebiam para dar uma diferente a Branco, com suposta "água batizada", que o teria deixado sonolento ao longo do jogo. Aos 39 minutos da etapa inicial, Branco, rodeado de argentinos, bebeu um pouco de uma garrafa verde, com o logotipo da marca de isotônicos Gatorade. O líquido nunca foi analisado mas, o episódio foi confirmada pelos próprios argentinos, entre eles Maradona, anos depois. "Eu dizia, beba, beba, Valdito... E depois veio Branco, que tomou toda a água. Justamente o Branco, que batia as faltas e caía (..) Alguém picou Rohypnol na água e complicou tudo".[14]
Em 2022, Branco relembrou o caso: "Naquele jogo eu dei sorte. Eu fiquei doidão. A sorte é que o lance foi pelo outro lado. Se é pelo meu lado, dizem que a culpa é minha. O Carlos Bilardo era um 'estrategista do mal'. Isso é uma trapaça. Enfim... e se eu vou pro [teste anti-]doping? Eu tô acabado, a minha carreira acabava, como eu ia provar?". Segundo Branco:" A principal meta do Carlos Bilardo era eu e o Valdo. Eu senti um gosto ruim, mas segui jogando. Aí você sabe quando você chega mamado em casa? O Estádio delle Alpi começou a rodar. Oscilava, ia e voltava. No intervalo, eu pedi para sair, o Lazaroni não me tirou, e aos poucos a sensação passou." [11]
A Era Dunga
A imprensa denominou de forma pejorativa de Era Dunga o período, com o objetivo de descrever o estilo defensivo da seleção. Pesava também a personalidade carrancuda e séria do volante. Os jogadores tinham a possibilidade de levar familiares para a Itália, e todos o fizeram, com exceção de Dunga. De acordo com Dunga: "vim aqui para ganhar a Copa do Mundo, não para me divertir".[10]
A Era Dunga virou sinônimo de futebol feio, de resultados. Jô Soares alfinetou no Jornal do Brasil: "O sonho maior de Dunga, noventa minutos sem espetáculo".[15] No dia após a derrota, o Jornal do Brasil estampava em sua capa: “O talento sepultou a era Dunga”.
Para Dunga, a derrota em 1990 doeu mais que em 1998: "Em 1990, seguramente doeu mais porque toda a responsabilidade foi colocada no meu nome por quatro anos, e até hoje colocam."[16]
Partidas na Copa
- Grupo C
- Primeira Fase
- 1º Jogo 10 de junho de 1990
- 2º Jogo 16 de junho de 1990
- Brasil 1-0 Costa Rica
- Gol: Müller (BRA)
- 3º Jogo 20 de junho de 1990
- Oitavas de Final
Jogo disputado em 24 de junho de 1990
- Gol: Caniggia (ARG)
Campanha
Jogos | Vitória | Empate | Derrota | Gol Pró | Gol Contra |
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4 | 3 | 0 | 1 | 4 | 2 |
O Brasil estreou vencendo a Suécia por 2 a 1. Para Geraldo Romualdo da Silva foi uma "vitória suada, custosa e apavorante". Roberto Rivelino criticou: "Estamos jogando com uma formação muito defensiva e contra a Suécia não precisávamos de tanta gente atrás".[17] João Saldanha pediu a escalação de Romário e Bebeto com Careca: "Nunca fomos tão defensivos e isto não é que me desagrade, mas incomoda e muito".[18]
No segundo jogo, o Brasil venceu a Costa Rica por 1 a 0. O Jornal dos Sports descreveu: "Lenta na maior parte do jogo e finalizando mal, a seleção brasileira foi vaiada a partir dos 15 minutos do segundo tempo". A torcida brasileira no estádio pediu por Bebeto no time.[19] Lazaroni reagiu após o jogo: "O Brasil vem jogando bonito há muitas Copas, principalmente em 1982. Em 1986, quando estava crescendo, foi eliminado. Agora vai jogar feio até o fim, mas vamos ser campeões se continuarmos ganhando por 1 a 0".[20]
No terceiro jogo, Brasil 1 a 0 na Escócia. Há três meses sem jogar por conta de uma lesão, Romário começou o jogo ao lado de Careca. Muller entrou no segundo tempo e fez o gol da vitória, retornando ao time titular no jogo seguinte. Mesmo já classificado, Lazaroni fez apenas uma alteração no decorrer do jogo. O Jornal do Brasil descreveu: "Forte na defesa, sem imaginação no meio de campo, fraco no ataque, o Brasil vai vencendo". Lazaroni: "Estava decidido a escalar nove reservas (..). Mudei porque os jogadores que iam entrar me pediram para deixar jogar os titulares".[21] O Jornal dos Sports publicou na véspera da partida: "O ambiente nos bastidores da Seleção Brasileira, a julgar pelas notícias alentadores que chegam de Asti, é o mais preocupante possível. (...) Alguns craques que seriam substituídos no jogo de amanhã não gostaram de saber das mudanças e protestaram com inusitada veemência.[22]
Nas oitavas de final, o Brasil enfrentou a Argentina no polêmico jogo da "água batizada". O Brasil foi derrotado por 1 a 0 e foi eliminado da competição. O gol da Argentina ocorreu após grande jogada de Diego Maradona, que fez fila na defesa brasileira, e tocou para Claudio Caniggia. O narrador Galvão Bueno criticou a marcação frouxa do meio-campo da Seleção e acusou Alemão de ter facilitado por ser "cupincha" do argentino. Galvão pediria desculpas em 2023.[23]
A Folha da Tarde estampou na manchete: "Deu Burro!" e abaixo "Esquema de Lazaroni elimina o Brasil". A Folha de S.Paulo colocou uma caricatura de Lazaroni com orelhas de burro na primeira página. O Jornal dos Sports publicou em tom jocoso uma pequena matéria: "Branco jura que foi dopado" na história mais inacreditável da Copa do Mundo. Lazaroni reagiu transtornado depois do jogo: "Ninguém pode me culpar de nada pois nas peladas não perdia gols [assim]. Se eu estivesse em campo contra a Argentina, dificilmente teria perdido alguns daqueles que deixamos de marcar. Por isso eu afirmo: antes do jogo, o grupo merecia nota 10, depois foram reprovados".[24]