Hórus Sá

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Hórus Sá
Hórus Sá
Fragmento de vaso com a inscrição Ḥwt-k3 Ḥrw-z3
Faraó do Egito
Reinado II dinastia ou III dinastia egípcia
 
Religião Politeísmo egípcio

Hórus Sá, Hórus Zá, ou somente ou , foi um possível faraó que pode ter reinado durante a II ou III dinastia do Antigo Egito. Sua existência é contestada, assim como o significado dos artefatos que foram interpretados como confirmando sua existência. Alguns associam-o a outros faraós conhecidos do período.

Atestação

Hórus Sá é conhecido a partir de fragmentos de vasos com inscrições em tinta preta com seu nome. Os vasos foram achados nas galerias do leste, sob a pirâmide de Djoser em Sacará. As inscrições são curtas e escritas em letras cursivas. Em todos os casos, o nome "Hórus Sá" não aparece em um sereque e sua identificação como o nome de Hórus de um rei é contestada.[1][2] O nome sempre aparece na inscrição Ḥwt-k3 Ḥrw-z3 ("Casa do de Hórus Sá"), que regularmente está junto aos nomes de Inicnum e Maa-aper-Mim, dois altos funcionários que serviram na Casa do Cá. Durante o início do período dinástico, a Casa do Cá antecedeu o templo mortuário e era o local onde se realizava o culto ao Cá do faraó falecido. Uma inscrição adicional, Ḥwt-k3 Ḥrw-z3, foi encontrada nos anos 1980, em Sacará, na área da tumba de Maia e muito próxima à de Merira-Merineite. Maia e Merira-Merineite eram oficiais do final da XVIII dinastia que reutilizaram as tumbas da II dinastia, cerca de 1 500 anos após a morte de seus proprietários originais.[3][4]

Identidade

Jürgen von Beckerath, Dietrich Wildung e Peter Kaplony propuseram que "Sá" é uma forma abreviada do nome de Hórus de Sanaquete.[5] Wolfgang Helck rejeita isso com o argumento de que as inscrições em tinta das galerias leste do complexo da pirâmide de Djoser datam predominantemente do reinado de Binótris ou pouco tempo depois, enquanto Sanaquete reinou durante a III dinastia. Além disso, as inscrições citando a "Casa do Cá de Hotepsequemui" são estilisticamente semelhantes às de Hórus Sá, que colocariam Sá na II dinastia, pois Hotepesequemui foi o primeiro da dinastia. foi o primeiro governante dessa dinastia. Assim, Helck propôs que Hórus Sá é o nome de Hórus de outro governante pouco conhecido da II dinastia, Uenegue, cujo nome de Hórus é desconhecido.[6]

O egiptólogo Jochem Kahl desafiou recentemente essa hipótese, identificando Uenegue com Queco.[7] Como alternativa, Kaplony reconstruiu o nome de Hórus de Uenegue do fragmento do Cairo da Pedra de Palermo como Ueneguesequemui.[8] Nos dois casos, Hórus Sá não pode ser o nome de Hórus de Uenegue e os dois não designariam o mesmo faraó. Consequentemente, Kaplony equipara Horus Sá a njswt-bity Wr-Za-Khnwm, "o rei do Alto e Baixo Egito, Uersacnum" e lhe atribuiu um reinado de 2 meses e 23 dias durante o interregno entre Quenerés e Djoser.[9] Porém, a hipótese de Kaplony foi prejudicada pela descoberta de selos de argila de Djoser no túmulo de Quenerés, indicando que Djoser foi o antecessor imediato e Quenerés o enterrou.[10] Hórus Sá poderia ser o nome de Hórus de Setenés ou outro faraó da II dinastia, reinando em Mênfis no período conturbado após o reinado de Binótris.[11]

No entanto, egiptólogos como Jean-Philippe Lauer, Pierre Lacau e Ilona Regulski pedem cautela na leitura correta das inscrições. Especialmente o sinal de pássaro no topo da casa de Cá também pode representar uma andorinha, o que tornaria a inscrição lida como Wer-sa-hut-Ka ("grande proteção da casa de Cá"). Ilona Regulski prefere a leitura como um pássaro de Hórus, embora não a veja explicitamente como o nome de um faraó, e data as inscrições até o final do reinado de Quenerés.[1]  

Tumba

O local do enterro de Hórus Sá é desconhecido. Nabil Swelim associou-o ao recinto inacabado de Gisrel Mudir, no oeste de Sacará.[12] Esta hipótese não ganhou ampla aceitação e o Gisrel Mudir foi atribuído a vários faraós da segunda dinastia, em particular Quenerés.[13] Como alternativa, o egiptólogo Joris van Wetering propôs que o túmulo da galeria usado pelo sumo sacerdote de Atom, Merira-Merineite, no norte de Sacará, era originalmente o de Hórus Sá, uma vez que a inscrição Ḥwt-k3 Ḥrw-z3 foi encontrada perto do túmulo. [3][4]  

Referências

  1. a b Regulski 2004, p. 953-959.
  2. Helck 1979, p. 120–132.
  3. a b Wetering 2004, p. 1068-1069.
  4. a b Walsem 2001.
  5. Schneider 1996, p. 243.
  6. Helck 1987, p. 103 e 108.
  7. Kahl 2007, p. 12–14 & 74.
  8. Kaplony 1981.
  9. Kaplony 1963, p. 380, 468 & 611.
  10. Wilkinson 1999, p. 83 & 95.
  11. der Way 1997, p. 107-111.
  12. Swelim 1983, p. 33 e 181−182.
  13. Mathieson 1997, p. S.36, 38ff., 53.

Bibliografia

  • der Way, Thomas Von (1997). «Zur Datierung des "Labyrinth-Gebäudes" auf dem Tell el-Fara'in (Buto)». Göttinger Miszellen. 157 
  • Helck, Wolfgang (1987). Untersuchungen zur Thinitenzeit - Ägyptologische Abhandlungen. 45. Viesbade: Otto Harrassowitz. ISBN 3-447-02677-4 
  • Helck, Wolfgang (1979). «Die Datierung der Gefäßaufschriften aus der Djoserpyramide». Zeitschrift für ägyptische Sprache und Altertumskunde. 106. ISSN 0044-216X 
  • Kahl, Jochem (2007). Ra is my Lord. Searching for the Rise of the Sun God at the Dawn of Egyptian History. Viesbade: Harrassowitz. ISBN 3-447-05540-5 
  • Kaplony, Peter (1963). «Die Inschriften der Ägyptischen Frühzeit, vol. III». Viesbade: Harrassowitz. Ägyptologische Abhandlungen (ÄA). 8 
  • Kaplony, Peter (1981). «Steingefäße der Frühzeit und des Alten Reiches». Zeitschrift für ägyptische Sprache und Altertumskund. 133-135. Berlim: Imprensa da Academia. ISSN 0044-216X 
  • Mathieson, Ian; Bettles, Elizabeth; Clarke, Joanne; Duhig, Corinne; Ikram, Salima; Maguire, Louise; Quie, Sarah; Tavares, Ana (1997). «The National Museums of Scotland Saqqara Survey Project 1993–1995». Jornal de Arqueologia Egípcia. 83 
  • Regulski, Ilona (2004). «Second dynasty ink inscriptions from Saqqara paralleled in the Abydos material from the Royal Museums of Art and History in Brussels». In: Hendrickx, S.; Friedman, R. F.; Cialowicz, K. M.; Chlodnicki, M. Egypt at Its Origins: Studies in Memory of Barbara Adams : Proceedings of the International Conference "Origin of the State. Predynastic and Early Dynastic Egypt", Kraków, 28th August - 1stt September 2002. Lovaina; Paris; Dudley, Massachusetts: Uitgeverij Peeters 
  • Schneider, Thomas (1996). Lexikon der Pharaonen. Munique: Deutscher Taschenbuch 
  • Swelim, Nabil (1983). Some Problems on the History of the Third Dynasty. Archaeological and Historical Studies. 7. Alexandria: Sociedade Arqueológica de Alexandria 
  • Walsem, René van (2001). «Sporen van een revolutie in Saqqara. Het nieuw ontdekte graf van Meryneith alias Meryre en zijn plaats in de Amarnaperiode». Phoenix: 69-89 
  • Wetering, Joris van (2004). «The Royal Cemetery of the Early Dynastic Period at Saqqara and the Second Dynasty Royal Tombs». In: Hendrickx, S.; Friedman, R. F.; Cialowicz, K. M.; Chlodnicki, M. Egypt at Its Origins: Studies in Memory of Barbara Adams: Proceedings of the International Conference "Origin of the State. Predynastic and Early Dynastic Egypt", Kraków, 28th August - 1stt September 2002. Lovaina; Paris; Dudley, Massachusetts: Uitgeverij Peeters 
  • Wilkinson, Toby A. H. (1999). Early Dynastic Egypt. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 0415186331