Netjercaré

Netjercaré
Netjercaré
Cartucho de Netjercaré na lista real de Abido
Faraó do Egito
Reinado ca. três anos, 2 184–2 181 a.C.[1]
Antecessor(a) Merenré II
Sucessor(a) Mencaré
 
Dinastia VI, VII ou VIII dinastia
Religião Politeísmo egípcio
Titularia
Nome
G39N5<
n
t Z5
iq
r
t
Z4
R13
>R13G39Z1R13t
p
V28R13
(Nt-iḳrti s3-ptḥ')
Trono
M23t
n
<
N5R8D28
>
(Nṯr-k3-Rˁ)
Título

Netjercaré (em egípcio: Nṯr-k3-Rˁ) ou Neticreti Siptá (em egípcio: Nt-iḳrti s3-ptḥ), e possivelmente a origem da figura lendária Nitócris, foi um faraó, o sétimo e último da VI dinastia. Alternativamente, alguns estudiosos classificam-no como o primeiro da VII ou VIII dinastia.[2] Gozou de breve reinado no início do século XXII a.C., numa época em que o poder do faraó estava se desintegrando e o dos nomarcas locais aumentava. Embora fosse homem, é provavelmente a mesma pessoa que o governante feminino Nitócris mencionado por Heródoto e Manetão.[3]

Atestação

O nome de trono Netjercaré está inscrito na 40.ª entrada da lista real de Abido, uma lista de reis redigida durante o reinado de Seti I, imediatamente a seguir de Merenré II Também é atestado numa única ferramenta de cobre de proveniência desconhecida e agora no Museu Britânico.[4] O nome Neticreti Siptá está inscrito no Cânone de Turim, na 5.ª coluna, 7.ª linha (4.ª coluna, 7.ª linha na reconstrução de Alan Gardiner do cânone).[2]

Identificação com Nitócris

Em suas Histórias, o historiador grego do século V a.C. Heródoto registra uma lenda segundo a qual a rainha egípcia Nitócris se vingou do assassínio de seu irmão e marido por uma turba rebelde ao desviar o Nilo para afogar os assassinos no banquete onde os reuniu.[2] A história também é relatada pelo sacerdote egípcio Manetão, que escreveu uma história do Egito chamada Egiptíaca no século III a.C.. Manetão escreve sobre Nitócris que era "[...] mais corajosa do que todos os homens de seu tempo, a mais bela de todas as mulheres, pele clara e bochechas vermelhas". Foi além e creditou-lhe a construção da Pirâmide de Miquerinos: "Por ela, dizem, foi erguida a terceira pirâmide, com aspecto de montanha".[5] Embora o rei assassinado não seja nomeado por Heródoto, Nitócris segue imediatamente Merenré II na Egiptíaca e, portanto, é frequentemente identificado como esse rei. Como o rei que segue Merenré II na Lista Real de Abido é "Netjercaré", o egiptólogo alemão Ludwig Stern propôs em 1883 que Netjercaré e Nitócris são a mesma pessoa.[3][6]

O egiptólogo dinamarquês Kim Ryholt confirmou a hipótese de Stern num estudo recente sobre o assunto. Argumenta que o nome "Nitócris" é resultado da fusão e distorção de "Netjercaré". Confirmando a análise, o Cânone de Turim, outra lista redigida no início do Período Raméssida, cita um Neticreti Siptá em posição incerta. As análises microscópicas de Ryholt das fibras do papiro sugerem que o fragmento onde o nome aparece pertence ao final da VI dinastia, imediatamente após Merenré II. Visto que na Lista Real de Abido, Netjercaré é colocado no lugar equivalente que Neticreti Siptá do Cânone de Turim, os dois devem ser a mesma pessoa. Além disso, "Siptá" é masculino, indicando que Nitócris era de fato faraó. "Nitócris" provavelmente se originou do nome de trono "Neticreti", que por sua vez vem é uma corruptela de "Netjercaré", ou então "Neticreti Siptá" era o nome de Sá-Ré e "Netjercaré" seu nome de trono.[3]


Referências

  1. Rice 1999, p. 140.
  2. a b c Baker 2008, p. 279–280.
  3. a b c Ryholt 2000.
  4. James 1961.
  5. Waddell 1940, p. 55–57.
  6. Stern 1883, p. 23, nota 2.

Bibliografia

  • Baker, Darrell D. (2008). The Encyclopedia of the Pharaohs: Volume I - Predynastic to the Twentieth Dynasty 3300–1069 BC. Londres: Stacey International. ISBN 978-1-905299-37-9 
  • James, T. G. H. (1961). «A Group of Inscribed Egyptian Tools». The British Museum Quarterly. 24 (1/2): 36–43 
  • Rice, Michael (1999). Who's Who in Ancient Egypt. Londres e Nova Iorque: Routledge. ISBN 0-203-75152-3 
  • Ryholt, Kim (2000). «The Late Old Kingdom in the Turin King-list and the Identity of Nitocris». Zeitschrift für Ägyptische Sprache und Altertumskunde. 127 (1): 87–119. ISSN 2196-713X 
  • Stern, Ludwig (1883). «Die XXII. manethonische Dynastie». ZAS. 21 
  • Waddell, W. G. (1940). Manetho. Londres e Cambrígia: Biblioteca Clássica Loeb