Saque do Recife
Saque do Recife | |||
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Guerra Anglo-Espanhola | |||
Vista do porto do Recife a partir de Olinda no início do século XVII, por Gillis Peeters | |||
Data | 30 de março - abril de 1595 | ||
Local | Recife, Capitania de Pernambuco (Brasil Colonial) | ||
Desfecho | Vitória inglesa[1][2] | ||
Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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O Saque do Recife, episódio também conhecido como Expedição de James Lancaster em 1595 e Expedição Pernambucana de Lancaster, refere-se a uma expedição militar inglesa ocorrida em abril de 1595, durante a Guerra Anglo-Espanhola, cujo objetivo foi o saque do porto do Recife, nas adjacências de Olinda, em Pernambuco, Brasil Colônia, que à época fazia parte da União Ibérica. Liderada pelo almirante inglês James Lancaster, foi a única expedição de corso da Inglaterra que teve como objetivo principal o Brasil, e representou o mais rico butim da história da navegação de corso do período elisabetano.[2][3]
A expedição navegou através do Atlântico capturando numerosos navios antes de chegar ao seu destino, Pernambuco, a mais rica capitania do Brasil Colônia. Lancaster tomou o porto do Recife e nele permaneceu por quase um mês, derrotando uma série de contra-ataques portugueses antes de sair. O montante de açúcar, pau-brasil, algodão e mercadorias de alto preço saqueado foi robusto, obrigando-o a fretar navios holandeses e franceses que lá estavam para levar as mercadorias para a Inglaterra, tornando a expedição um absoluto sucesso militar e financeiro.[4]
Antecedentes
A União Ibérica, união dinástica entre as monarquias de Portugal e da Espanha, converteu o Brasil em alvo de potências europeias que eram amigas de Portugal mas inimigas da Espanha, como a Inglaterra e a Holanda. A Capitania de Pernambuco, mais rica de todas as possessões portuguesas, se tornou então uma região cobiçada.[3]
Poucos anos após derrotarem a Invencível Armada espanhola, em 1588, os ingleses tiveram acesso a manuscritos portugueses e espanhóis que detalhavam a costa do Brasil. Um deles, de autoria do mercador português Lopes Vaz, veio a ser publicado em inglês e enfatizava as qualidades da rica vila de Olinda ao dizer que "Pernambuco é a mais importante cidade de toda aquela costa". A opulência pernambucana impressionara o padre Fernão Cardim, que surpreendeu-se com "as fazendas maiores e mais ricas que as da Bahia, os banquetes de extraordinárias iguarias, os leitos de damasco carmesim, franjados de ouro e as ricas colchas da Índia", e resumiu suas impressões numa frase antológica: "Enfim, em Pernambuco acha-se mais vaidade que em Lisboa". Logo a capitania seria vista pelos ingleses como um "macio e suculento" pedaço do Império de Filipe II.[3]
Antes do Saque do Recife, ocorrido em 1595, a Capitania de Pernambuco já estava nos planos de James Lancaster: em sua primeira viagem ao Oriente, o comandante havia tentado seguir para Pernambuco, durante o percurso de volta para a Inglaterra, mas sua tripulação, doente e amotinada, recusou-se a atender seu desejo. Isso indica que Lancaster tinha informações seguras sobre o local e avaliava positivamente as chances de uma incursão militar de assalto e saque naquelas paragens. Havia, na verdade, certa familiaridade entre os navegadores ingleses e a capitania, pois desde o início da União Ibérica, as naus que saíam regularmente de Pernambuco com destino a Lisboa e seus ricos carregamentos de açúcar, a mercadoria mais valorizada das Índias Ocidentais, caíam frequentemente nas mãos dos corsários ingleses. Os Brazilmen, como costumavam ser chamados esses navios, eram uma das presas mais comuns no Atlântico Norte.[3]
A expedição
A expedição de James Lancaster saiu de Blackwall, na Grande Londres, em outubro de 1594, e navegou através do Atlântico capturando e incorporando numerosos navios portugueses e espanhóis à sua frota, com vistas a poder embarcar parte da mercadoria que pretendia saquear em Pernambuco.[3]
Em Cabo Branco, na Mauritânia, Lancaster teria uma feliz notícia. Conforme registra o autor anônimo do relato publicado em The Principal Navigations, o corsário obteve uma informação que aguçaria ainda mais seu apetite e sua determinação em rumar para o Recife: "Nesse lugar, ele soube, por um dos pilotos desses navios, que um dos galeões que vinham das Índias Orientais naufragara em Pernambuco, tendo toda a sua mercadoria sido armazenada no Arrecife, que é a cidade baixa. Todos nos alegramos com estas notícias, e muito comemoramos, pois nossas esperanças eram as melhores tendo um tal butim diante de nós". Capturar uma nau da Índia, as desejadas Indiamen, era muito mais difícil do que tomar e saquear uma nau do Brasil, e a enorme nau São Pedro, que se desgarrara da armada composta de cinco navios e viera a encalhar na costa da Capitania de Pernambuco, estava superlotada, carregada das mais valiosas mercadorias: perfumes, especiarias, drogas, preciosos tecidos indianos, tapetes, sedas, rubis, esmeraldas, diamantes, ouro e uma série de outros produtos orientais. Todo o carregamento da nau encalhada foi transportado para os armazéns do porto do Recife, e, ciente disso, Filipe II fizera uma provisão em junho de 1595 para Manuel Mascarenhas Homem (capitão-mor de Pernambuco entre 1596 e 1603) comandar uma frota de urcas com destino a Pernambuco, para resgatar e levar para Lisboa a rica carga — a essa altura, no entanto, os ingleses pouco haviam deixado nos armazéns do Recife.[3]
Saque do Recife
Da Ilha do Maio, no Cabo Verde, última parada antes de seu destino, a frota de pelo menos quinze embarcações zarpou em direção à Capitania de Pernambuco em busca do açúcar do Recife e das mercadorias da nau da Índia. Ao chegar, Lancaster confrontou a resistência local, mas se deparou na entrada do porto com três urcas holandesas, das quais esperava uma reação negativa, o que não aconteceu: os antes pacíficos holandeses levantaram âncora e deixaram o caminho livre para a invasão inglesa, e além de não terem oposto resistência à ação, terminaram por se associar aos ingleses, fretando seus navios para o transporte dos bens subtraídos em Pernambuco. Lancaster então tomou o Recife e nele permaneceu por quase um mês, espaço de tempo no qual se associou aos franceses que chegaram no porto e derrotou uma série de contra-ataques portugueses.
Resultado e consequências
A frota liderada por Lancaster saiu do porto do Recife com um montante robusto de açúcar, pau-brasil, algodão e mercadorias de alto preço. Dos navios que partiram do porto, apenas uma pequena nau não chegou ao seu destino. O lucro dos investidores, entre eles Thomas Cordell, então prefeito de Londres, e o vereador da cidade de Londres John Watts, foi assombroso, estimado em mais de 51 mil libras esterlinas. Do total, 6 100 libras ficaram com Lancaster e 3 050 foram para a Rainha. Com tal desfecho, a expedição foi considerada um absoluto sucesso militar e financeiro.[1][3]
O Rei Filipe II, ao saber do Saque do Recife e de outros dois ataques ingleses, em Trinidad e Caracas, não se omitiu: no dia 13 de agosto do mesmo ano a Espanha atacou o condado da Cornualha, no episódio conhecido como "Batalha da Cornualha", em retaliação.[4]
Após a visita de Lancaster, a Capitania de Pernambuco organizou duas companhias armadas para a defesa da região, cada uma delas com 220 mosqueteiros e arcabuzeiros, uma sediada em Olinda e outra no Recife. Anos depois, até meados de 1626, o então governador Matias de Albuquerque procurou estabelecer posições fortificadas no porto do Recife a fim de que se pudesse dissuadir a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais da ideia empreendida na Bahia em 1624. Os investimentos, no entanto, não foram suficientes: a nova e poderosa esquadra da Holanda investiu sobre a Capitania de Pernambuco em 1630, e a conquistou, estabelecendo nela a colônia Nova Holanda, que durou vinte e quatro anos.[3][5]
Ver também
Referências
- Citações
- ↑ a b Bicheno pg 308-09
- ↑ a b Ebert p.146
- ↑ a b c d e f g h Jean Marcel Carvalho França, Sheila Hue. «Piratas no Brasil: As incríveis histórias dos ladrões dos mares que pilharam nosso litoral». Google Livros. p. 92. Consultado em 1 de julho de 2016
- ↑ a b Foster pg 35-54
- ↑ Universidade Federal de Campina Grande. «Mathias de Albuquerque». Consultado em 23 de junho de 2012. Arquivado do original em 3 de novembro de 2012
- Bibliografia
- Andrews, Kenneth R. (3 de janeiro de 1964). Elizabethan Privateering 1583-1603. Cambridge: Cambridge University Press. pp. 180–81. ISBN 9780521040327
- Bicheno, Hugh. (2012). Elizabeth's Sea Dogs: How England's Mariners Became the Scourge of the Seas. [S.l.]: Conway. ISBN 978-1844861743
- Bradley, Peter T. (2010). British Maritime Enterprise in the New World: From the Late Fifteenth to the Mid-eighteenth Century. [S.l.]: Edwin Mellen Press Ltd. ISBN 978-0773478664
- Ebert, Christopher (2008). Between Empires: Brazilian Sugar in the Early Atlantic Economy, 1550-1630 Volume 16 of The Atlantic world. [S.l.]: BRILL. ISBN 9789004167681
- Foster, William (1940). The voyages of Sir James Lancaster to Brazil and the East Indies, 1591-1603. [S.l.]: The Hakluyt Society. ISBN 9781409414520
- Franks, Michael. The Basingstoke Admiral: A Life of Sir James Lancaster (c. 1554 - 1618). [S.l.]: Hobnob Press, 2006. ISBN 9780946418596
- Howego, Raymond (2001). Encyclopedia of Exploration. [S.l.]: Hordern House. ISBN 978-1875567362
- Hufferd, James (2005). Cruzeiro do sul: a history of Brazil's half millennium, Volume 1. [S.l.]: AuthorHouse. ISBN 9781468531367
- Koebel, W.H. (2011). South America (Illustrated Edition). [S.l.]: The Echo Library. ISBN 978-1406866964