10 Hígia

Hígia ⯚
Imagem de Hígia pelo instrumento SPHERE no VLT
Número 10
Data da descoberta 12 de Abril de 1849[1]
Descoberto por A. de Gasparis[1]
Categoria Cinturão principal
(família Hígia)
Homenagem a Hígia
Precedido por 9 Métis
Sucedido por 11 Partenope
Elementos orbitais[1]
Época JD 2458600.5
Semieixo maior 3,14 UA
Periélio 2,788 UA
Afélio 3,495 UA
Orbita Sol
Excentricidade 0,112
Período orbital 2033,82 d (5,57 a)
Velocidade orbital 16,76 km/s
Anomalia média 152,18°
Inclinação 3,831°
Longitude do nó ascendente 283,20°
Argumento do periastro 312,32°
Características físicas
Dimensões 450 × 430 × 424 km
Massa (8,21 ± 0,29) ×1019 kg
Densidade média 1,97 ± 0,10 g/cm3
Período de rotação 27,630[1] h
Classe espectral Tipo C[1]
Magnitude absoluta 5,43[1]
Albedo 0,072[1]

Hígia (designação de planeta menor: 10 Hígia) é um grande asteroide e possível planeta anão[2] do cinturão de asteroides. Foi descoberto por A. de Gasparis em 12 de abril de 1849, e recebeu o nome da deusa grega da saúde. Um membro do cinturão de asteroides externo, possui uma órbita moderamente excêntrica a uma distância média de 3,14 UA do Sol. É o principal membro da família Hígia de asteroides.

Hígia é o quarto maior asteroide do Sistema Solar, com um diâmetro médio de 430 quilômetros, e também o quarto mais massivo, possuindo cerca de 2,9% da massa total do cinturão. Possui um formato praticamente esférico e sua superfície não apresenta grandes crateras, o que é consistente com sua provável origem a partir de fragmentos de uma grande colisão há 2 bilhões de anos.[2] Um asteroide do tipo C, possui uma composição carbonácea e uma superfície bastante escura.

Observações feitas com auxílio do sistema SPHERE, montado no Very Large Telescope (VLT), do Observatório Europeu do Sul (ESO, na sigla em inglês) em 2017 e 2018, e anunciadas no final de 2019, revelaram que Hígia é quase esférica e está próxima de uma forma de equilíbrio hidrostático.[3][4] Os autores do estudo, portanto, consideram-no um possível planeta anão.[5][6] No entanto, conjectura-se que Hígia foi interrompida por um impacto, com os detritos subsequentes se reacumulando, em vez de ser massivo o suficiente para ser plástico.[7] O impacto disruptivo produziu a maior família colisional conhecida.[8]

Descoberta e nomeação

Hígia foi descoberto em 12 de abril de 1849, em Nápoles, Itália, pelo astrônomo Annibale de Gasparis.[9] Foi o primeiro de nove asteroides descobertos por ele. O diretor do observatório de Nápoles, Ernesto Capocci, nomeou o asteroide, escolhendo o nome Igea Borbonica ("Hígia de Bourbon") em homenagem à família dominante do Reino das Duas Sicílias onde Nápoles se encontrava.[10] Em 1852, John Russell Hind escreveu que o asteroide "é universalmente denominado Hígia, o apêndice desnecessário 'Borbonica' sendo largado".[10] O nome vem de Hígia, a deusa grega da saúde e filha de Esculápio.[11]

Órbita e rotação

Animação da órbita de Hígia em relação aos planetas internos e Júpiter

Hígia é um membro do cinturão de asteroides externo, orbitando o Sol a uma distância média de 3,14 UA, depois da lacuna de Kirkwood a 2,82 UA. Sua excentricidade orbital moderada de 0,112 o leva entre 2,79 UA do Sol no periélio até 3,50 UA no afélio. Seu período orbital é de aproximadamente 5,6 anos.[1]

A rotação de Hígia é anormalmente lenta, com um período de 27 horas e 37 minutos medido pela curva de luz,[1] enquanto períodos de 6 a 12 são mais típicos de asteroides grandes. A direção de rotação do asteroide não é conhecida, devido a uma ambiguidade na curva de luz que é agravada pelo longo período de rotação (observações em uma noite cobrem uma fração limitada da rotação completa), mas suspeita-se que seja retrógrada.[11] Análises da curva de luz indicam que o polo de rotação de Hígia aponta para as coordenadas eclípticas (β, λ) = (30°, 115°) ou (30°, 300°), com uma incerteza de 10°.[12] Em ambos os casos, a inclinação axial é próxima de 60°.[12]

Características físicas

Comparação de tamanho entre os quatro maiores asteroides (esquerda para direita): Ceres, Vesta, Palas, Hígia

Com base em seu espectro, a superfície de Hígia parece consistir de materiais carbonáceos primitivos parecidos com os encontrados em meteoritos condritos carbonáceos. Produtos de alteração por água foram detectados em sua superfície, o que pode indicar a presença de gelo de água no passado, que foi aquecido o suficiente para sublimar.[11] A composição superficial primitiva observada indica que Hígia não fundiu durante o período inicial do Sistema Solar,[11] ao contrário de outros planetesimais grandes como Vesta.[13]

Hígia é o principal membro da família Hígia de asteroides, contendo quase toda a massa nessa família (mais de 90%). Hígia é o maior asteroide tipo C—uma classe de asteroides escuros que é dominante no cinturão de asteoires externo. Hígia parece ter a forma de um esferoide oblato, com um diâmetro médio de 444 ± 35 km e uma razão de eixos de 1,11.[11] A partir de perturbações nas órbitas de asteroides vizinhos, sua massa é calculada em 8,21 ± 0,29 ×1019 kg, correspondendo a uma densidade de 1,97 ± 0,10 g/cm3.

Apesar de ser relativamente grande, Hígia tem um baixo brilho visto da Terra, devido à sua superfície escura e grande distância do Sol. Com uma magnitude aparente em oposição média de 10,2, é apenas o 22º asteroide mais brilhante, apesar de ser o quarto maior.[14] Seu brilho é quase quatro magnitudes menor que o do Vesta, e requer um telescópio de pelo menos 4 polegadas (100 mm) para observação.[15] No entanto, quando a oposição coincide com o periélio, Hígia pode atingir magnitude 9,1 e pode ser observável com binóculos 10x50, ao contrário dos dois próximos maiores asteroides, 704 Interamnia e 511 Davida, que estão sempre fora da visibilidade de binóculos.[16]

Pelo menos cinco ocultações estelares por Hígia foram observadas da Terra,[17] incluindo duas (em 2002 e 2014) vistas por um grande número de observadores. Essas observações têm sido usadas para determinar o tamanho, forma e eixo de rotação de Hígia.[18] O Telescópio Espacial Hubble observou o asteroide e descartou a presença de luas maiores que 16 km em órbita.[19]

Planeta anão

Em 2019, os astrônomos que usam o Very Large Telescope (VLT) revelaram que o asteroide Hygiea poderia ser classificado como um planeta anão. Eles descobriram que Hygiea é esférico, potencialmente tomando a coroa de Ceres como o menor planeta anão do Sistema Solar. Observações mostram que o diâmetro do tamanho da Hygiea está em pouco mais de 430 km. Plutão, o mais famoso dos planetas anões, tem um diâmetro próximo de 2400 km, enquanto Ceres tem quase 950 km de tamanho.[20]

Em 2019 um grupo de cientista reclassificou o asteroide para a classificação de planeta anão após observações com o instrumento Sphere do observatório europeu do sul no VLT.[21]

Ver também

Referências

  1. a b c d e f g h i «JPL Small-Body Database Browser: 10 Hygiea». Jet Propulsion Laboratory. Consultado em 9 de outubro de 2019 
  2. a b «ESO Telescope Reveals What Could be the Smallest Dwarf Planet Yet in the Solar System». Observatório Europeu do Sul. 28 de outubro de 2019. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  3. Vernazza, P.; Jorda, L.; Ševeček, P.; Brož, M.; Viikinkoski, M.; Hanuš, J.; et al. (28 de outubro de 2019). «A basin-free spherical shape as an outcome of a giant impact on asteroid Hygiea, Supplementary Information» (PDF). Nature Astronomy. 4. Bibcode:2020NatAs...4..136V. doi:10.1038/s41550-019-0915-8. hdl:10045/103308Acessível livremente. Consultado em 18 de março de 2023 
  4. Strickland, A. (28 de outubro de 2019). «It's an asteroid! No, it's the new smallest dwarf planet in our solar system». CNN. Consultado em 18 de março de 2023 
  5. «Asteroid Hygiea May be the Smallest Dwarf Planet in the Solar System». Space.com. 28 de outubro de 2019. Consultado em 18 de março de 2023 
  6. «The solar system may have a new smallest dwarf planet: Hygiea». 28 de outubro de 2019. Consultado em 18 de março de 2023 
  7. Yang, B.; Hanuš, J.; Carry, B.; Vernazza, P.; Brož, M.; Vachier, F.; Rambaux, N.; Marsset, M.; Chrenko, O.; Ševeček, P.; Viikinkoski, M.; Jehin, E.; Ferrais, M.; Podlewska-Gaca, E.; Drouard, A.; Marchis, F.; Birlan, M.; Benkhaldoun, Z.; Berthier, J.; Bartczak, P.; Dumas, C.; Dudziński, G.; Ďurech, J.; Castillo-Rogez, J.; Cipriani, F.; Colas, F.; Fetick, R.; Fusco, T.; Grice, J.; et al. (2020), «Binary asteroid (31) Euphrosyne: Ice-rich and nearly spherical», Astronomy & Astrophysics, 641: A80, Bibcode:2020A&A...641A..80Y, arXiv:2007.08059Acessível livremente, doi:10.1051/0004-6361/202038372 
  8. «Telescópio revela o que seria o menor planeta anão do Sistema Solar». revistagalileu.globo.com. Consultado em 18 de março de 2023 
  9. A. O. Leuschner (15 de julho de 1922). «Comparison of Theory with Observation for the Minor planets 10 Hygiea and 175 Andromache with Respect to Perturbations by Jupiter». Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America. 8 (7): 170–173. Bibcode:1922PNAS....8..170L. PMC 1085085Acessível livremente. PMID 16586868. doi:10.1073/pnas.8.7.170 
  10. a b John Russell Hind (1852). The Solar System: Descriptive Treatise Upon the Sun, Moon, and Planets, Including an Account of All the Recent Discoveries. [S.l.]: G. P. Putnam. p. 126. Bibcode:1852ssdt.book.....H 
  11. a b c d e Barucci, M (2002). «10 Hygiea: ISO Infrared Observations». Icarus. 156 (1): 202. Bibcode:2002Icar..156..202B. doi:10.1006/icar.2001.6775 
  12. a b M. Kaasalainen (2002). «Models of Twenty Asteroids from Photometric Data» (PDF). Icarus. 159 (2): 369. Bibcode:2002Icar..159..369K. doi:10.1006/icar.2002.6907. Consultado em 23 de junho de 2009 
  13. Righter, K.; Drake, M. J. (1997). «A magma ocean on Vesta: Core formation and petrogenesis of eucrites and diogenites». Meteoritics & Planetary Science. 32 (6): 929–944. Bibcode:1997M&PS...32..929R. doi:10.1111/j.1945-5100.1997.tb01582.x 
  14. Moh'd Odeh. «The Brightest Asteroids». The Jordanian Astronomical Society. Consultado em 21 de maio de 2008. Arquivado do original em 13 de agosto de 2007 
  15. «What Can I See Through My Scope?». Ballauer Observatory. 2004. Consultado em 20 de julho de 2008. Arquivado do original em 22 de junho de 2013 
  16. Ford, Dominic (29 de junho de 2017). «Asteroid 10 Hygiea at opposition». in-the-sky.org. Consultado em 14 de março de 2019 [ligação inativa] 
  17. James L. Hilton. «Asteroid Masses and Densities» (PDF). U.S. Naval Observatory. Lunar and Planetar Institute. Consultado em 26 de agosto de 2008. Cópia arquivada (PDF) em 19 de agosto de 2008 
  18. Hanuš, J.; et al. (15 de maio de 2017), «Volumes and bulk densities of forty asteroids from ADAM shape modeling» (PDF), Astronomy & Astrophysics, 601: A114, Bibcode:2017A&A...601A.114H, arXiv:1702.01996Acessível livremente, doi:10.1051/0004-6361/201629956, consultado em 28 de julho de 2019 
  19. A. Storrs (1999). «Imaging Observations of Asteroids with HST». Bulletin of the American Astronomical Society. 31: 1089. Bibcode:1999DPS....31.1103S 
  20. «ESO Telescope Reveals What Could be the Smallest Dwarf Planet Yet in the Solar System». Tech Explorist (em inglês). 28 de outubro de 2019. Consultado em 28 de outubro de 2019 
  21. Filho, Fabrício (28 de outubro de 2019). «Cientistas detectam o menor planeta anão do Sistema Solar». Olhar Digital - O futuro passa primeiro aqui. Consultado em 29 de outubro de 2019 

Ligações externas

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